terça-feira, 22 de junho de 2010

absurdo verídico

Quando finalmente cheguei ao meu destino, fui consumido pelo calor da paisagem. Um azul engolia-me e eu deixava-me afogar nele. Há melhor maneira de morrer que num azul daqueles? O calor da vista durou longos minutos até que, de repente e sem aviso, se desvaneceu, deixando o meu corpo congelar ao sabor do vento. A respiração tornara-se pesada. Parecia que a brisa, de tão fria, rasgava os meus pulmões. Estremeci e tentei-me abstrair do frio. Apenas o azul, esbelto e forte, focava a minha atenção. O meu olhar percorreu toda a paisagem até que se focou num ponto bastante curioso. Duas pessoas afastavam-se a passo lento, como que sendo pesaroso. Um filme de Hollywood trespassou a minha mente, e imaginei duas pessoas afastando-se em mágoa de amor. Duas almas gémeas separando-se. Um segundo arrepio fez-me aperceber da história que estava a inventar. Que absurdo! Andas a escrever romances a mais, rapaz! dizia a minha consciência. Ao ouvir/pensar nisto, uma gana repentina de ter um bloco de notas e uma caneta atingiu-me como uma bala. Lamentei o facto de não ter trazido esses dois pequenos (mas essências) materiais. Segundos mais tarde, vendo que não havia solução de como satisfazer esta minha vontade, larguei o assunto e foquei-me no caminho até à praia. Deixei de ver o mar (e o par) por escassos minutos. A curiosidade alimentava-se do meu cérebro, roendo o meu juízo. As histórias que a minha cabeça inventava… Quando, na descida íngreme que dava até à areia suave e macia, voltei a vislumbrar o meu azul, vi a mulher e o homem, que outrora estavam, literalmente, a seguir seus próprias caminhos, abraçados como se a previsão do fim do mundo fosse para amanhã. Quando me certifiquei que eram os mesmos sujeitos, pensei: As personagens podem estar confusas, mas que há história, há! E não é da minha cabeça!


L.

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