quarta-feira, 16 de junho de 2010

saltos altos vermelhos

Ansiava a chegada dela. Queria vê-la, senti-la, tocar-lhe, beijá-la, cheirá-la, acariciá-la, dizer-lhe “Amo-te”.

Estaria a chegar a qualquer momento; e eu estaria pronto para a receber. Olhava pela janela, esperando um carro preto, elegante. Enquanto esperava, apreciava a paisagem. Lá ao fundo, avistava o Tejo, que cintilava com as carícias do Sol.

De repente, um motor rompe o silêncio da tarde. O meu coração saltou com tal quebra de ambiente. Um nervosismo trepou o meu corpo, causando-me arrepios. Abri a janela e pus os meus olhos à escuta. Ao fundo, manifestou-se uma carrinha vermelha. Desilusão; foi o que senti. No entanto, logo atrás da carrinha vinha o tão esperado carro, que continha o tesouro mais precioso que o simples ouro ou o reles dinheiro. Um verdadeiro e puro tesouro; fruto de amor, filha da Natureza.

Uma mulher elegante saiu do carro. Os seus elegantes cabelos avelã dançavam com o vento. O seu rosto, rosado e perfeito, elevou-se, dirigindo o olhar a mim. Os seus olhos, sabia eu, azuis cristalinos não eram visíveis pois estavam protegidos pelos óculos de sol. No entanto, o que os olhos diziam – e eu não via – era também visível no sorriso que os seus lábios de cetim mostravam.

Corri para a porta e pressionei no botão vermelho que chamava por mim. Botão que abria a porta do prédio, levando às escadas e, após a subida dos trinta e cinco degraus, à porta de minha (humilde) casa.

Os meus ouvidos ficaram atentos, como que se um radar tivesse ligado. Ouvi a porta abrir e, poucos segundos mais tarde, fechar. Os saltos altos latejavam na minha cabeça. Já conseguia imaginar… Uma mulher de cabelos longos avelã, corpo esguio e curvilíneo, com roupas justas, reforçando a ideia de sensualidade e para finalizar, uns saltos altos elegantes, prolongando as suas pernas, já elas próprias longas.

Pac. Pac. Pac. Pac.

O meu coração acelerava a cada batida dos saltos. A batida era ritmada, como a minha batida cardíaca. A meio caminho, tornara-se a batida do meu coração. Sincronização perfeita, o barulho dos saltos soava por cima do meu coração, ansioso por saltar do meu peito.

Os saltos pararam. A porta estava aberta, tanto que me virei, esperando vê-la. Com o parar da música dos saltos altos, também a música do meu coração parou, ao ver a linda mulher de saltos altos vermelhos.

A minha mulher de saltos altos vermelhos.

L.

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