sábado, 7 de agosto de 2010

rosas brancas

O vento soprava levezinho, refrescando os convidados, como que se o próprio vento tivesse tirado «folga» do seu trabalho a tempo inteiro para aquele momento tão especial. O céu, tingido de manchas brancas, sem quaisquer marcas de cinzento, dava cobertura a tal reunião. Um jardim, pormenorizadamente decorado com lindas rosas brancas, estava repleto de pessoas.

Pessoas de todas as idades, vestidas formalmente, encontravam-se sentadas naquele mar de verde, esperando a grande entrada. Crianças, obviamente desconfortáveis nos seus trajes escolhidos pelos pais, remexiam-se nos assentos recebendo olhares enfurecidos dos respectivos pais. Adolescentes, mandavam olhares uns aos outros (de hormonas ao rubro), mantendo uma postura de superioridade para se fazerem notar. Rapazes, que não tiravam os olhos das belas jovens que no jardim se encontravam. Nem delas, nem dos decotes que todas teimaram eu usar, para fazer realçar os seus dotes. Como disse, de hormonas ao rubro. Os ditos adultos falavam uns com os outros, falando dos filhos, ou de como toda aquela preparação era de uma elegância elevada às expectativas. Idosos deitavam algumas lágrimas, uns lembrando-se dos seus tempos jovens e de quando, outrora, pessoas se tinham reunido para testemunhar o momento deles; outros lembrando-se da pessoa com quem partilharam esse momento tão especial numa vida, que já não se encontrava com eles no momento.

O som das teclas do piano geraram silencia total, e todos se levantaram, virando-se para trás.

Uma mulher elegante, acompanhada de um homem baixo e já de uma certa idade, exibia um lindo e volumoso vestido branco. Um véu tapava a sua beleza, que era quase como uma crueldade. Nas mãos trazia um bouquê de rosas brancas. Tudo corria como previsto: elegante e perfeito.

Enquanto a mulher avança, o vestido arrastava-se atrás dela. Todos os olhos estava postos no vestido, mas os que lhe importavam estavam bem presos no seu olhar. Um homem esperava em pé ao pé do altar. O amor que os unia era quase visível, tal era a sua grandeza.

Momentos mais tarde, ouvia-se o padre proferir as suas últimas – e mais importantes – palavras:

- Declaro-vos, agora, marido e mulher. – com a satisfação de ter unido mais um casal, sorriu. – Pode beijar a noiva.

E assim o fez, um longo e apaixonado beijo encheu o peito de toda a gente, criando lágrimas aos mais sensíveis. Mas o que estava para vir não poderia ter sido nunca previsto.

Duas manchas negras surgiram no azul infinito e penetraram no jardim, indo em direcção ao altar. A mulher, já com o véu descoberto, semicerrava os olhos, tentando descobrir do que se tratava. As duas manchas dirigiam-se na sua direcção a uma velocidade vertiginosa. Foi aí que, a noiva mais bonita da História, cai de costas no altar, sendo devorada por dois demónios negros. Todos em choque, fugiram, gritando de pânico. O vermelho tingia o lindo e incandescente branco. A mulher gritava de agonia. Os gritos foram ficando mais abafando até cessarem por completo. O corpo ficou inerte dentro do vestido que mudava de branco para vermelho. O homem com quem casara há segundos olhava, sorrindo, observando os dois corvos, negros como carvão, comeram a sangue vivo a sua noiva, que era agora medonha. A mais bela das noivas estava agora mutilada, de vestido vermelho e boquê nas mãos. As rosas, tal como o vestido, tornaram-se vermelhas.

O homem sorriu, lembrando-se de quando pôs um elixir, que atrairia aqueles demónios ao corpo da pobre mulher, no perfume desta.

Assim, o homem partiu, atirando o anel ao corpo morto que jazia naquele local sinistro, outrora lindo.

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