Sentado a uma mesa na zona de fumadores, cansado do longo dia que tinha sido, olhava sem ver para tudo o que era lado. A minha mãe, ao meu lado direito, fumava o seu "segundo" cigarro do dia após um café escaldado, queixava-se de como os seus pés doíam devido aos sapatos. O meu pai à minha frente bebia a bica e fumava ao mesmo tempo, enquanto falava com a minha mãe. Eu, sem querer parecer indelicado, tentava pôr no rosto uma face nada aborrecida. Permanecia-me calado. Até que algo me despertou ambos a curiosidade e o interesse. Aí, qualquer ruído se desvaneceu e apenas conseguia ouvir o meu pensamento, que fluía e dançava na minha cabeça.
Na mesa do lado, um casal jovem (a meu ver, aproximadamente dezanove anos) conversava com um casal já mais avançado na sua história de vida. Percebi logo de imediato que os jovens se encontravam num namoro. E pelos visto sério, visto já sair à vontade com os sogros. Ele era bem parecido, ela tinha uma beleza muito subtil e dócil. A mulher mais velha, que, do meu ponto de vista, tapava o marido, tinha o cabelo avermelhado e a pele muito escura. Como conseguia ver o braço do marido, pude concluir que este também tinha a pele escurecida. Seria da sombra? Não. Então seriam os pais de qual deles? Ambos tinham a pele clara... Até que comecei por notar o comportamento deles, armando-me em detective, pondo a minha boina na cabeça, instalando o cachimbo na minha boca e sacando a lupa do bolso.
Percebi de imediato os papeis das personagens de tal novela real. Ele era o filho, que jantava com os pais e com a namorada. Como descobri? Fácil.
O homem permanecia num silêncio discreto; A mulher falava como grilo canta ao luar; O rapaz respondia normalmente, com uma naturalidade que o desmascarava (pois nenhum ser humano que jantasse com os sogros se sentiria o à vontade que ele definitivamente sentia); a rapariga olhava maioritariamente para o rapaz, olhando de relance para a mulher quando esta falava com ela, acenando e acabando as suas frases, dando a impressão que percebia perfeitamente o que esta dizia. As personagens foram desvendadas.
O homem era o pai; A mulher era a mãe; O rapaz, o filho; A rapariga era a namorada.
Descobertas as facetas, pus-me a observar outros aspectos. Ele, de barba por fazer usava chinelos e calções, com um ar casual de como quem não quer saber. Ela, de rabo de cavalo, com uma saia acima da cintura e uma camisa de cavas, com um ar vintage que lhe assentava na perfeição. A mulher, com um anel exuberante no dedo, camisa azul como tantas outras, e cabelo dum vermelho sangue, tentando dar um ar jovem mas que não lhe corria muito bem, pois considerando o tom de pele, o cabelo parecia mal situado. O homem com uma camisa de mangas arregaçadas desapertada até ao peito, deixava os pelos arejarem. No final de contas, Ela, a que se deveria sentir mais "de parte" e menos situada naquilo tudo, era a sobressaia. Não que tenha a ver o facto de ela ser rapariga e o observador, eu, do sexo oposto. Nada disso. Simplesmente realçava, sem qualquer ajuda de instinto macho ou algo que se pareça. Apenas sei que ela saltava a vista do meio daquela gente. Talvez fosse dos olhares que ela mandava ao namorado? Ou seria do seu ar mais elegante? Não sei...
Se se tratava de um amor verdadeiro? Não faço a mais pequena ideia. Mas que pareciam felizes, isso sim.
muito, muito bom!
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